segunda-feira, 24 de setembro de 2007

p/b

Se pensassem nela, em uma imagem, em uma foto, seria em preto e branco. Certamente em preto e branco. Talvez o som chegasse antes, bem calmo, de mansinho, vindo num trem sem pressa lá de longe e de repente tão perto que ninguém se apercebeu que aquele mistério de fumaça da maria já se foi. Pra voltar daqui um cadinho, que é daquelas fumaças de névoa, de sereno, de verdade, que fazem parte de uma paisagem boa que às vezes pode até ser mais difícil de traçar mas por isso mesmo está sempre ali pra quem souber ver.

E na voz que vem cantada, ou nem cantada, ritmada, não se sabe se é de sotaque ou da calma que não é de paz de quem não precisa falar muito, quem sabe nada, pra que todo mundo veja, escute, sinta, leia que tem um mundo mundaréu desenhado pelas fumaças de um cigarro.

Mundo mundaréu que nem dá pra dizer se é grande enorme baleia voando no céu zeppelin que passa e vê as coisas, as dores, os amores de quem vai andando lá embaixo, aqui do lado, do lado de lá. Ou se é pequeno punho fechado coração lá dentro que bate enquanto vai andando e esbarrando e explodindo explosão de supernova estrela sapeca que se deixa levar barco de papel que existe somente na iminência de seu fim. Porque até o fim é bonito nas palavras de quem sabe escrever porque precisa, com o mundo escapando entre os dedos.

E não é mundo meu, mundo seu, mundo nosso, é mundo dela, tão dela, imagem na tela, tão bela, canção na janela, singela. Com a generosidade daqueles que se expõem ao dividir uma visão (de), um mundo, um coração partido, uma dor doída chorada secreta quem sabe, personagens que “às vezes” são mais biografia que ficção e é lindo que sejam e sempre será com quem se dá numa música, num poema, numa história, ou no cinema.

Se pensassem nela se emocionariam. Por saber que nossos tempos ainda permitem que se façam essas pessoas que chegam no limite, que andam na corda bamba, caem, se machucam, sangram, sorriem sorrisos de amores verdadeiros e que têm a coragem de fazer disso tudo coisas belas, ou tristes, ou sujas, ou confusas, ou isso tudo, enfim. Convencionou-se chamá-las de artistas. E, olhando pra ela, é o que se vê.





Mas gostaria que, nesse momento, ela pensasse em cores.

Um comentário:

Anônimo disse...

tá. tô passada. isso é lindo. ca-ra-lho.