quarta-feira, 26 de setembro de 2007

o beijo da prefeitura

- Mas todo mundo sabe que aquela foto do Doisneau foi encenada.
- ...
- ...
- Não foi, não.
- Foi, sim.
- É claro que não foi. Como se alguém fosse capaz de reproduzir um momento daqueles...
- Ué, e o cinema faz o quê?
- Cinema é diferente.
- São várias fotos juntas...
- Ai, claro que não... Cinema você põe o movimento, as palavras, a música... É muito mais fácil. Fotografia é um plano. Só.
- Enfim, Marina, não importa. A foto é encenada.
- Cara, a gente tá falando da mesma foto? A foto nem é perfeitinha, os braços deles tão no meio do caminho, o cara parece o Bon Jovi, na época isso devia ser uó... Cara, Pedro, a velha que tá atrás fica chocada com o beijo! É lindo, é foda pra caralho!
- Eeei, não precisa gritar! Não tô falando que não é foda, tô falando que é fake. Todo mundo sabe disso.
- ...
- ...
- Por que você tá fazendo isso comigo?

O rapaz nem tentou ir atrás. Não ia dar corda pra uma bobagem daquelas, garota teimosa, grossa ainda por cima, mimada, ninguém pode contrariar, ainda devia tá de TPM e ele ia ter que ouvir mais aquela voz alta esganiçada de quando ela ficava nervosa e provavelmente só ele achava fofa no mundo todo.

Ele nem tentou ir atrás, e ela só queria que ele fosse atrás, que ele conseguisse provar que não, que não era invenção, encenação, pose, reprodução, mentira. Ela chegou a diminuir a velocidade, chegou a parar, chegou a virar.

Ela só queria que ele provasse que amor daqueles existia.

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