Querido diário,
você que não sente, não erra, não peca, não sente tesão, não cai em tentação, não se apaixona, não machuca os outros, não se machuca nem é machucado, não tem fantasias nem perversões, não trepa e não goza, não reza e não chora, não pensa em atropelar e se jogar da janela... Querido diário... Por que diabos eu conversaria com você?
Querido diário, só porque você não julga e não abandona? Não emite opiniões e não reprova? Dá alívio e conforto? Querido diário, me desculpe, mas eu prefiro o desconfortável. Cansei da mão na cabeça e, com todo respeito, nem mão você tem.
Querido diário, espero que entenda. Mas acho melhor um tapa na cara de alguém que se importe o bastante para tanto. Escolho a reprovação sincera, e carinhosa. Escolho crescer.
Querido diário, não se ofenda. Veja bem, não será para mim que escreverei. Será para a pessoa que eu amo. E que me ama de volta. Uma pessoa para quem eu possa contar meus erros sabendo que serão deplorados. Uma pessoa que eu magoe e que me magoe porque, afinal, é também o que as pessoas fazem. Mas também uma pessoa pela qual eu queira mudar, crescer, reconhecer as falhas, lidar com elas.
Querido diário, aprendi que sinceridade não é confessionário, e que é melhor sofrer com consciência do que o alivio de uma penitência.
Então, querido diário, adeus. A partir de agora, escrevo para uma pessoa de carne e osso, um grande amor. Que como todo grande amor, e como muitas outras coisas, machuca. Mas como todo grande amor que é grande o bastante para ser muito mais que um grande amor, é o único capaz de fazer do machucado algo além.
E é para além que eu quero ir.
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