- Deve haver muitas diferenças entre nós.
- Diferenças? E então? Se não houvesse diferenças nós seríamos uma pessoa só.
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A culpa foi minha, ou antes, a culpa foi desta vida agreste que me deu uma alma agreste.
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Saudade? Não, não é isto: é desespero, raiva, um peso enorme no coração.
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Mais tarde, no escritório, uma idéia indeterminada saltou-me na cabeça, esteve por lá um instante quebrando louça e deu o fora. Quando tentei agarrá-la ia longe.
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O que estou é velho. Cinqüenta anos pelo São Pedro. Cinqüenta anos perdidos, cinqüenta anos gastos sem objetivo, a maltratar-me e a maltratar os outros. O resultado é que endureci, calejei, e não é um arranhão que penetra esta casca espessa e vem ferir cá dentro a sensibilidade embotada.
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Se fosse possível recomeçarmos, aconteceria exatamente o que aconteceu. Não consigo modificar-me, é o que mais me aflige.
São Bernardo, Graciliano Ramos
quarta-feira, 9 de janeiro de 2008
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