quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

post scriptum

Você olha e ela tá ali dançando pra ela ou pra todo mundo ou pra alguém que não é você. Mas, cara, você tem que saber que é porque ela não sabe, entende? Ela não sabe olhar nos olhos e dançar pra quem ela quer dançar, porque ela vai tá se entregando. Porque ela leu em algum lugar que os olhos de alguém são sempre de um gnomo louco e desesperado que fica encolhido ali dentro, e ela não conhece o gnomo dela, cara. E ela morre de medo.

Rapaz, como tem medo essa daí. E é medo tanto que pra sair só de armadura, máscara, fantasia. Só você acha que não. Você olha e ela tá ali dançando e você achando nossa, que mulher madura e bem-resolvida, e adorando que tá na palma da mão dela. E ela põe mesmo a maior banca, entra na onda, versa sobre os mais variados assuntos, não bebe além da conta e essas coisas de quem acha que tem controle. Olha, que tem muitas assim e são umas filhas-da-puta, não tem como não ver. Mas essa... Dá pra ficar na dúvida, porque ela não parece querer ter ninguém na mão dela, não. Repara só. Ela pode até falar que sente o peso de um piano atrapalhando a liberdade dela, daquilo que ela leu de que tu te tornas responsável por aquilo que cativas. Mas ela deve tá é com medo do contato com a pele de quem é capaz de se envolver tanto assim. Vai que é contagioso.

Você olha e ela meio que te olha, você sente que ela te vê, que ela te despe inteiro ali numa conversa rápida numa cerveja no meio da rua. Mas ela não se deixou olhar em nenhum momento, cara, e isso é meio foda porque quase ninguém percebe. E as pessoas vão se apaixonando, e ela sempre se perguntando por quem diabos é essa paixão se ninguém conseguiu olhar pra ela e ver através de tantas camadas de um lance meio commedia dell’arte, saca? Ah, nem precisa sacar, ela fica com essa aura de difícil, metade dos caras se assusta e os que não se assustam são os que valem a pena, e aí ela foge. Mas se quem quebra a cara ou o coração é você, fica tranqüilo, que quem se fode é ela.

A parada, na verdade, é você decidir se vai ou fica. Porque decidir não é o forte dela, e ela vai te falar que tá em algum lugar entre fast as you can (e, cara, quem se identifica com Fiona Apple nunca é lá digno de muita confiança), entre isso e uma menina que precisa aprender a ser abraçada.

Mas, rapaz, quando ela fala isso você se derrete, né? E acredita, claro, porque dá pra ver que é verdade. Ou que ela acha que é verdade. Conselho pra te dar ninguém tem, provavelmente porque ninguém entende muito ela e nem vai querer botar a mão no fogo. Então você tá sozinho nessa, e decide pular fora. Mas é claro que querendo que ela de alguma forma te impeça, te peça pra ficar, te dê alguma garantia. E aí já é pedir demais, você tem que concordar. Não pela situação que ela tá ou algo assim, não é pra justificar a moça, não. É só que, porra, somos todos maiores de idade e vacinados, não é esse o lance? Então por enquanto, sei lá, cada um por si. O máximo que dá pra pedir é sinceridade, e nossa, pros tempos que a gente vive isso já é tanta coisa...

E aí, com essa quantidade de merda que eu falei (quanta viadagem, hein, cara?), a gente vê o que que dá pra tirar de bom. Caralho, por que a gente não gravou isso pra ouvir de novo amanhã? Transcrevia, virava um conto. Né, não, Neves? Traz mais dois! Porque amanhã eu vou negar que falei isso tudo, você sabe, e te falar pra calar a boca e aproveitar que ela é gostosa. Mas, meu caro, hoje eu te confesso que tá todo mundo aqui sozinho, e com medo, só querendo se deixar abraçar, e a máscara cair.

2 comentários:

Anônimo disse...

Sempre gostei de gnomos.
Mas nunca vi.


Será que procurando, a gente acha?





ou será q é lenda msmo?

Anônimo disse...

ah. que ruim.
eu peço pra ficar. faço escândalo e rolo no chão.
é. vai ver que é por isso que eu vivo levando coração quebrado pra casa.


beijos, moça
vc tá cada dia melhor!