quarta-feira, 7 de maio de 2008

sobre a moça de olhos vermelhos

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Saiu andando com a mão no bolso do blazer, finalmente desistindo de parecer adulta. Chegou na lanchonete com lágrimas nos olhos, finalmente não tentando se manter feliz.

Recebeu o troco acompanhado de alguma palavra de carinho, e só então percebeu que já estava chorando. Mais tarde, pensaria em “sempre dependi da bondade de estranhos”, uma frase que lhe marcara a alma. Mesmo sendo ela própria uma aspirante à auto-suficiência.

Continuou seu trajeto assumindo que não sabia para onde ia.
Reconheceu até a possibilidade de não conseguir chegar.

E então parou, no meio da praça.
E até sorriu, um pouco sem-graça, de graça, desgraça.
Tentando se acostumar a ser ela mesma naquele lugar.

Foi aqui que resolveu não mais fingir ser sozinha.
Ou foi obrigada, poderia dizer, quando viu que ao invés de tentar esconder sua dor, havia se colocado embaixo do maior foco de luz que poderia encontrar.

Sentiu a força do desejo legítimo de deixar sua dor ser também a daqueles que passavam, sem nem perceber que isso seria, de certa forma, um ato de generosidade.

(Manteve-se assim por período indeterminado.
Sentindo a liberdade de ter estabelecido seu próprio palco e de, finalmente, não atuar.)

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2 comentários:

Anônimo disse...

isso é sobre aquele quadro do Hoper?

S.

Anônimo disse...

iii, viajei. o quadro era do manet.


a mulher é q era do hoper.

esquece hah

S.