terça-feira, 13 de novembro de 2007

adeus

Meu bem,

Eu vou embora. Gostaria de te contar que foi passageiro. Minha felicidade sem motivo, meus sorrisos fugidios. Gostaria de, agora, te contar que já acabou. Te dizer que foi um deslize. Te pedir perdão.

Gostaria, mas se acabou foi contra a minha vontade. Eu queria ele. Eu amava ele como nunca te amei. Amava com ele como nunca com você. Desejei ter conhecido ele antes, e que meus filhos fossem dele. Minha pele. Minha aliança. Mesmo tendo sido só um sonho. Numa cama desconhecida. Num abraço longo. Num beijo nosso. Mesmo assim. Foi um sonho que ecoou. Como se, em alguma outra dimensão, essa vida estivesse existindo. E agora eu olha para essa casa, e não é minha. Não a sinto minha. Não me sinto aqui. Não reconheço esses quase vinte e cinco anos, essas fotos, esses pratos na parede, essa cor que eu nunca quis. E quero voltar pra onde pertenço.

Eu vou embora. Vou te deixar. Os meninos já estão crescidos. Você também deveria estar. Deveria ser homem o bastante pra me perguntar com quem me encontro, quem é que liga. Me dar um tapa, me mandar pra fora. Mas não. Você finge que dorme, que não escuta, que não se importa. E no dia seguinte me compra flores. Não quero flores. Ele nunca me deu flores, nunca precisou.

Ele me pediu pra ir embora. Com ele. Te deixar. E ele deixaria ela. E a vida começaria. Eu tentei. Tentei te dizer, meu bem, vou embora. Mas era só eu pensar, começar, abrir a boca. Pra você mudar de assunto, com palavras doces, com declarações de amor. Você covarde, eu mais. Talvez um casal que se mereça.

Eu não vou embora. Eu fico. Sem felicidade sem motivo. Sem sorrisos. Eu até tento, mas aí vejo a sua satisfação de me ter aqui. Ainda que triste. Ainda que despedaçada. Ainda que te odiando mais a cada dia.

Nenhum comentário: