sábado, 9 de junho de 2007

Wakening Call

A porta bate violentamente.
Chamado pra vida?
Ou foi só o vento?

É dito que 11:11 é uma hora cabalística
Astrológica
Mística
É dito que os portais energéticos se abrem.
Às 11:11
Chamado pra vida?

Ele fica sentado esperando os chamados e se esquece de olhar pela janela, onde ela passa.

quarta-feira, 6 de junho de 2007

2046


O Mar, de John Banville

Alguns trechos dessa pequena obra-prima como recomendação fervorosa:

“O passado está pulsando no meu peito, como um segundo coração”

“Desviei os olhos com medo de que eles pudessem me trair; os olhos de alguém são sempre de outra pessoa, daquele gnomo louco e desesperado que fica encolhido ali dentro.”

“A água ferveu e a chaleira desligou sozinha. A água, ali dentro, foi se aquietando, mal-humorada. Fiquei impressionado, e não foi a primeira vez, com a complacência cruel das coisas comuns.”

“... continua sorrindo para mim daquele modo meio desfocado, que, agora me dou conta, era o jeito como olhava para tudo, como se não estivesse absolutamente convencida da solidez do mundo...”

"Mas por outro lado, em que momento a vida não muda inteiramente, até aquela última mudança, a mais momentânea de todas?"

A respeito dele aqui

segunda-feira, 4 de junho de 2007

Scooby dooby doo

Já faz algum tempo eu descobri que tenho um filho.
Não tive a dor de parto, as estrias, os enjôos, não engordei.
Provavelmente, por outro lado, perco grandes momentos.

Imagine um ser lindo, lindo, com menos de 3 anos, menos de um metro de altura, que se diz Fred e para quem eu sou a Daphne.

A mãe dele ficou com ciúmes. Disse que a Daphne era ela. Ele quase chorou. Ela perguntou porque não podia ser a Daphne enquanto trocava de roupa. Ele respondeu, naturalmente, apontando toda a obviedade da coisa, aquela que escapava aos nossos limitados olhos de gente grande:

- Porque você está pelada, mamãe!

Mas é claro! Que grande absurdo ela estava propondo. Ser a Daphne estando sem roupas... Mantive o meu posto. E ainda criamos um código secreto para que a Welma pare de tentar roubar o meu lugar.

Que venham os fantasmas e os ursos que se escondem nas paredes! Nós estamos preparados pro que der e vier.

na voz de gal

Não choro
Meu segredo é que sou
Rapaz esforçado
Fico parado, calado, quieto
Não corro
Não choro
Não converso

Massacro meu medo
Mascaro minha dor
Já sei sofrer
Não preciso de gente
Que me oriente

Se você me pergunta:
Como vai?
Respondo sempre igual:
Tudo legal

Mas quando você vai embora
Movo meu rosto do espelho
Minha alma chora
Vejo o Rio de Janeiro

Comovo, não salvo, não mudo
Meu sujo olho vermelho
Não fico parado
Não fico calado
Não fico quieto
Corro, choro, converso e tudo mais
Jogo num verso
Intitulado o mal secreto

Undefined

Ela dizia que não chorava na frente dos outros.
E chorou tanto na minha...
Nunca soube se era péssimo da minha parte ficar ligeiramente lisonjeada.
Porque ela estava, afinal, chorando.
Mas ela fazia parecer uma coisa ótima.

Como era cena das mais lindas, nunca discuti.

domingo, 3 de junho de 2007

Ói meu nariz

Todas as pessoas que me amaram gostavam do meu nariz.
Eu não gosto do meu nariz.
Engraçado isso, né? E de tanto elas gostarem, passei a gostar um pouco também.

E daí fiquei pensando... Será que é do amor isso? Fazer a pessoa amada gostar do que acha que é defeito em si? Achar adorável aquilo que faz o outro sentir uma certa vergonha?

Só pra perceber que é um grande erro que muita gente comete isso de tentar definir o que é do amor. O que é o amor.

Pode ser que um dia uma pessoa me ame odiando meu nariz.

Será? Espero que não.

Hit

Às vezes me sinto tão... inapta? Existe, não existe? Sim, existe. Mas queria, nesse momento, saber exatamente o que significa. Porque estou dizendo que é como me sinto. E acho que me devo, agora mais do que nunca, ter mais precisão quanto às coisas que eu sinto.

Não tenho dicionário aqui. O quarto ao lado está fechado. O Google não ajudou.

Inapta. - Não, não vou entrar nos meandros etimológicos. Olha a tentação dos velhos hábitos... É isso o que faço, sabia? Eu me prendo a fatos pra não ter que pensar (lidar com? Falar sobre?) no que sinto. Posso contar uma história inteira narrando tudo o que todas as partes disseram. Em detalhes, chega a ser chato. Mas dificilmente falo sobre o que eu senti. E, no entanto, tenho sempre a impressão de me expor demais.

Inapta. Tem sido muito freqüente minha sensação de não-pertencimento. Não pertenço. Estou lá, estou aqui, mas não é a minha vibe, minha onda, minha turma, meu papo, minha praia, meu domínio. E não sei se nada disso me pertence, se não encontrei o que é meu, ou se não aprendi a lidar com o fato de que não sou do mundo. De um mundo específico. Talvez eu seja da vida. Talvez isso seja bom.

A cada dia a estrada cresce mais em mim. Quero a estrada. A falta de rumo, de prumo, de eira, de beira, de fim. A cada dia sinto mais claramente que só vou olhar pra dentro, só vou me encontrar caindo fora. Quero cair fora.