sexta-feira, 22 de agosto de 2008

você é...

Ouvi algumas vezes que você é o que você lê. Não sei de onde tiraram isso. Já li alguns Gabriel Garcia Márquez, e ainda não sei usar a meu favor a constatação de que realidade e fantasia se misturam, fazendo com que nenhum seja absoluto. Ainda não sei diferenciar sentimentalismo de emoção. Ainda não aprendi a observar Macondo, as pessoas, suas relações, sem ser um narrador onipresente que julga ser possível descrever intenções, pensamentos, interesses, caráter.

Já li muito Fernando Pessoa. E não consigo ser ninguém além de mim. Continuo tentando fazer tudo caber dentro de um único frasquinho escrito EU. E lá não cabem as diferenças, incongruências, incoerências. Tenho sempre que jogar alguma coisa fora, algum pedaço de mim. E costuma ser o pedaço mais triste. Mais desajeitado. Aquele com o qual se aprende.

Li mitologia grega. E ainda me deixo abater pela tragédia, pela família, pelos erros que não são meus. De Shakespeare admiro, mas não incorporei, a demonstração de que não há verdade. Não há mentira. E que fazemos sempre uso de máscaras e disfarces, e podemos ter consciência disso.

Estou lendo Nietzsche. E não sei se consigo me despir, um pouco que seja, da moral. Do bem e do mal, da verdade e da certeza, da “sedução das palavras”.

Mesmo de um dos últimos livros que li, e que mais gostei, não conseguir transpôr para a prática o fato de que não há "fatos", e mesmo memórias não passam de invencionices. Lindas ficções, desde que não sejamos escravos dela.

Então, sejamos livros. Desde que sejamos livres.

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