quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Rio

Querida,

Estou escrevendo porque bateu agora uma saudade, tremenda, de você. Nunca tinha pensado nisso, mas será que tremenda tem alguma ligação etimológica com tremer? Não sei. Sei que está frio, e não chega a ser tanto, mas essa chuva me faz querer ainda mais estar te abraçando naquela cama pequena que nos incomoda nos dias de calor. Saudade do seu mau-humor monossilábico de quem quer esconder os pensamentos para ter os pensamentos desvendados. Ou de quem simplesmente queria ter dormido um pouco mais.

Saudade do seu bom-humor frouxo, seu sorriso por trás do cigarro, os copos que você quebra quando vai esbarrando no mundo, inadvertidamente no seu caminho quando se lembra de que pode ser leve, e essa leveza que tira seu pé do chão e pode te dar um medo de ser levada embora. E do gosto do seu beijo nessas horas em que você me deixa voar junto ao invés de cortar as próprias asas. Acho que nunca te contei isso, mas no dia daquele primeiro beijo, antes daquele primeiro beijo, eu olhei pra você e você tinha asas e elas estavam fechadas e eu achei um desperdício tão grande que você não estivesse voando, talvez sem nem saber que podia. E quis te beijar ainda mais, e no beijo foi que eu te entendi um pouco pela primeira vez. Porque com você assim perto deu pra sentir o peso que é carregar umas asas fechadas o tempo todo. Saudade de te entender um pouco mais a cada beijo. E da maneira como tudo o que você fala contradiz a sua boca, e como eu aprendi a acreditar mais nela.

Saudade do seu peso em mim. E do medo que eu tinha de que você sentisse o quanto o meu coração batia forte, e de como assim ele batia ainda mais, e do pacto tácito que a gente fez de se ensinar a não ter mais medo. E de como não ter medo com você me fez ter menos medo do mundo. Mas principalmente do mundo que eu vejo quando estou do seu lado.

Querida, bateu agora uma saudade tremenda de mim. Volta logo. Que o violão não agüenta mais ser afinado todo dia.

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