domingo, 7 de outubro de 2007

uma menina

Era uma vez uma menina...
Que não, não queria ser bailarina. Quem dera fosse assim tão simples. Quem dera soubesse. Quem dera lembrasse.

Era uma vez uma menina que não conseguia se aproximar. Dos outros, do mundo. Ela meio que flutuava ao redor, pairava, observando. E não era um observar como que julgando, nem como se pudesse. Pena não fazia parte de seu repertório. Nem dó. Nem piedade. A palavra que ela descobriu em si foi compaixão quando soube que paixão significa sofrimento. E era isso: sentia a dor dos outros, como os outros, com os outros. E que outros lindos eram aqueles que se deixavam sentir, se deixavam levar, se deixavam sofrer no caminho de viver uma vida vivida. Sentia, então, um certo amor, que vinha com uma vontade de num abraço dizer tudo que...

Era uma vez uma menina que queria se aproximar. Dos outros, do mundo. Mas não sabia como dar o que ela nem sabia o que era, o que ela nem sabia o que tinha. E sentia tanto o que os outros sentiam que nem sabia mais o que era dela. A menina queria se dar. Como certas pessoas, umas que ela admirava mais – era menina de se admirar essa menina. Mas, não sabendo como, dava o que podia. Esperava um anoitecer – de algo que escondesse um pouco a timidez de quem não costuma, enfim – saía correndo e deixava um presente desajeitado pra alguém que talvez nem soubesse o por quê. E podiam até achar que a menina dava algo de si. Quem sabe. Mas, se reparassem bem, ela quase nunca abraçava.

Era uma vez uma menina que tentando se aproximar, dos outros, do mundo, convenceu. E convencer é tão triste pra uma menina que só quer ser descoberta.

Era uma vez, enfim, uma menina. Que era tantas meninas juntas. Que podia até caber em si. Mas se perdia no caminho.

Um comentário:

Anônimo disse...

a conversa...